De A a Z para a Música na Educação

De A a Z para a Música na Educação... por Manuela Encarnação

Encontro Nacional da APEM - 2016

Manuela Encarnação: Presidente da APEM

Clique no seguinte link para ler este A a Z:

A

de audição e apreciação. A forma como a música é apresentada e ouvida em contexto educativo e o que isso representa no modo como cada um se relaciona com a própria música, é um importante ponto de reflexão.

As atividades de audição musical devem ter um propósito e se esse propósito se centrar naquilo que se ouve, ou seja, se se focar na maneira como a música funciona enquanto música, nos seus diversos aspetos musicais, permitirá descobrir elementos comuns a toda a música que poderão constituir-se como base para uma apreciação musical mais estruturada, significativa e abrangente.

B

de Bernstein (Leonard Bernstein, 1918-1990). Maestro-compositor e professor americano, autor dos Concertos para Jovens, produzidos e transmitidos pela televisão e que se tornaram uma referência internacional de programas de apreciação da música. Verdadeiras lições de música de um músico e um comunicador de excelência com muito sentido de humor.

Disponíveis aqui: https://www.youtube.com/user/ArtfulLearning/videos

O conceito de aprendizagem Artful baseado na filosofia de Bernstein consiste na ideia de que as artes podem reforçar a aprendizagem e podem ser incorporadas em todas as disciplinas académicas. O programa é organizado em unidades de estudo que assentam em quatro elementos principais: experienciar, questionar, criar e refletir.

Para aprofundar este modelo de aprendizagem pode ler aqui: https://leonardbernstein.com/artful-learning

Outro compositor de referência para a educação musical, Britten, Benjamin (1913-1976), compositor do “Guia do jovens músicos à orquestra” (variações e fuga sobre um tema de Purcell) uma excelente obra para dar a conhecer as famílias dos instrumentos da orquestra e vibrar com cada naipe.

Ouvir aqui: https://www.youtube.com/watch?v=4vbvhU22uAM

C

de cantar, Cantar Mais e criatividade. Assumir que o cantar deve ser uma experiência central da aprendizagem e da vida musical das crianças e jovens, implica proporcionar as condições necessárias para que essa experiência adquira e tenha a qualidade e a frequência indispensáveis.

O Cantar Mais representa o contributo da APEM para a concretização desta ideia, disponibilizando recursos artísticos e pedagógicos que permitirão a realização de atividades não só interpretativas como de audição e criação musical, em que o espaço para o desenvolvimento da criatividade das crianças deverá ter um lugar privilegiado.

Visite o sítio em: http://www.cantarmais.pt/

D

de diversidade e divertimento. Como se pode trabalhar hoje em dia na escola e nas aulas com a diversidade de alunos respeitando e valorizando as suas diferenças e ao mesmo tempo sem perder o divertimento que a música e o seu ensino pode e deve trazer?

Sem a transmissão de prazer e alegria numa aula de música, a aprendizagem pode ficar em causa. Fazer da diversidade dos alunos que se encontram na aula uma oportunidade para trazer e fazer música de vários géneros e estilos e de várias formas tocando todas as nossas emoções e sem perder a intencionalidade educativa.

E

de educação, ensino e estratégias de ensino. O conceito de educação está forçosamente ligado ao conceito de ensino. Ensinar consiste em desenvolver uma ação especializada, fundada em conhecimento próprio, de fazer com que alguém aprenda alguma coisa que se pretende e se considera necessária (Roldão, 2009). Mas é no modo como se ensina que se vão encontrar as potencialidades que viabilizam, induzem e facilitam a aprendizagem e é aqui que se situam as estratégias de ensino (Idem).

A justificação das estratégias de ensino implica saber responder às seguintes questões: como vou organizar a ação e porquê, tendo em conta o para quê e para quem? Num segundo nível, devemos responder à questão, com que meios, atividades, tarefas, sequência e porquê? (Idem). O professor de música que se questiona e responde a estas questões é por certo um melhor professor!

F

de flauta de bisel. A introdução deste instrumento na sala de aula de educação musical do ensino básico deu-se massivamente na década de 80 do séc. XX em Portugal tendo como justificação dois níveis de argumentos: o prático - é um instrumento barato, fácil de transportar e pode ser exigido a todos os alunos - e o pedagógico – a produção do som na flauta é fácil e rápida de ser aprendida.

Podendo ser estes argumentos válidos, nunca poderão estar desligados da educação musical que se pretende, tendo em conta esses objetivos, a realidade e os interesses dos alunos. Transformar as aulas de educação musical em apenas aulas de flauta, sem qualidade, é empobrecer todo o potencial que o espaço musical pode ter numa escola e contribuir para a construção de uma visão redutora das aulas de música, pelos alunos e pelas famílias.

A flauta de bisel é um instrumento muito particular:
https://www.youtube.com/watch?v=WRG9ASbj1ZU&list=RDWRG9ASbj1ZU#t=42

G

de Gordon (Edwin Gordon 1927-2015). O legado da Teoria de Aprendizagem Musical de Gordon deve fazer parte dos conhecimentos do professor e pode sintetizar-se nas próprias palavras do autor: a teoria de aprendizagem musical é uma explicação de como aprendemos, quando aprendemos música. Ensinar é uma arte , mas aprender é um processo. Toda a aprendizagem, e a aprendizagem da música não é exceção, começa pelo ouvido e não pelos olhos.

H

de holística. A importância de uma conceção holística do ensino da música, ou seja, que defenda a importância da compreensão integral e integrada dos variadíssimos fenómenos e componentes do ensino e da música e não uma análise de cada elemento isoladamente.

I

de interpretação e de improvisação duas dimensões essenciais das práticas musicais em sala de aula para o desenvolvimento de competências musicais. A interpretação implica cantar, tocar e movimentar e a improvisação implica exploração, experimentação com a voz, objetos, e instrumentos, por exemplo.

J

de juntar, no sentido de organizar estruturas musicais para fazer composição na sala de aula. Eis o ponto de partida de John Paynter (1931-2010) para o ensino musical. A sua proposta é a de incluir a música contemporânea nas escolas, para que se valorize a experiência individual e a estética baseada na experiência do sujeito, e não na manutenção das tradições.

A construção da música ou fragmentos musicais partem da escuta ativa e experimental, na qual, por meio do jogo exploratório, criam-se estruturas sonoras. No seu livro Sound and Structures, Paynter define quatro etapas para o desenvolvimento de projetos musicais:

(1) explorar sons da música e compreender como funcionam;

(2) organizar esses sons em ideias musicais;

(3) desenvolver a técnica, ou seja, as ideias exigem o desenvolvimento de meios de controlo artístico;

(4) juntar todas as etapas tornando possível a produção de peças musicais completas, estruturadas no tempo.

K

de Kódaly (1882-1987). A Música é para todos. Temos a obrigação de aproximar toda a população das artes e estas da população. O que deve ser feito? Ensinar Música (e em especial Canto!) nas escolas, de modo que ela não seja uma tortura mas sim um prazer; incutir nos alunos uma sede de “boa música” que dure a vida inteira. (Cruz, C.B. APEM,1988,)

Muitas vezes Kodály chama a atenção, nos seus escritos, para a importância da utilização nos primeiros anos do ensino da música (pré-escolar e início do ensino básico) de repertório adequado a cada país, música tradicional nacional ou composta a partir dela. (Cruz, C.B.APEM,1998)

L

de literacia musical. O ensino da música perspetivado no sentido do desenvolvimento da literacia musical dos alunos implica o envolvimento em práticas de audição, de interpretação, de improvisação, de composição, de conceptualização, de análise e de avaliação. A efetividade dessas práticas ocorre quando os materiais musicais são significativos para as crianças e jovens, pelo que a valorização tanto do contexto natural do material musical como do contexto social em que ele é usado se torna fundamental.

M

de música no currículo. Mais do que educação musical o que se pretende é que a música faça parte de todo o currículo básico do sistema de ensino, sem interrupções, sem hesitações. A música como parte integrante do currículo deve estar por valor próprio e as práticas associadas a esta área devem ser artísticas e musicais.

N

de necessidades de formação. Perceber e conhecer as necessidades de formação é um passo essencial para o desenvolvimento profissional que se faz colaborativamente e na interação com os outros. Músicos, artistas, professores, investigadores, escolas e universidades deverão constituir-se, a vários níveis, como parte de uma rede de formação que trará, por certo, mais sentido e consistência à Música na Educação.

O

de Orff (1895-1982). A ideia central da Orff-Shulwerk é colocar a música e a dança ao alcance de todos, fomentando a parte criativa e artística do ser humano , através da expressão vocal, instrumental, corporal e artes plásticas. É um processo de aproximação ao fazer música como uma forma de pensar e de utilizar a música como um meio de comunicação.

Maria de Lourdes Martins (1926-2009), primeira Presidente da APEM foi introdutora do sistema de aprendizagem Orff em Portugal depois de se ter diplomado em Orff-Shulwerk no Mozarteum de Salzburg em 1965. O impacto nas escolas foi grande, sendo o conhecido instrumental Orff o mais divulgado, e o reportório para estes instrumentos o mais praticado nas escolas do ensino básico. Ler e reler os princípios da Orff-Shulwerk e os seus desenvolvimentos ao longo do tempo, deverá ser uma prática de qualquer professor de Música.

P

de professores, práticas e projetos, uma trilogia para o currículo do século XXI. Professores reflexivos, com uma visão para o ensino e conscientes que as suas práticas profissionais são determinantes para as aprendizagens dos alunos.

A organização do ensino a partir de projetos que integrem e articulem o que de essencial se deverá aprender e nasçam a partir dos interesses dos alunos, é uma tarefa difícil, mas por certo conducente a um ensino de excelência, mais motivador e para todos.

Q

de qualidade e de querer melhorar as práticas e querer ser melhor professor. A motivação do professor para melhoria das suas práticas é o principal fator para que a mudança venha a acontecer e para o seu desenvolvimento profissional.

R

de repertório para a educação musical no ensino básico. Que repertório devemos selecionar? Que critérios devemos delinear para essa seleção? Esta é uma questão muito discutida por diversos autores e na literatura e na investigação sobre educação e formação musical, mas que não tem uma única resposta correta. A decisão para a seleção de um repertório deve ter claramente definida uma visão de ensino, os objetivos desse ensino e os contextos em que desenvolve.

S

de Swanwick, o autor de referência que deverá ser lido e estudado por todos os professores de música. Swanwick defende que saber música é como conhecer uma pessoa: são precisos vários encontros e a diversos níveis, contextos e situações. Por isso os professores devem ter em conta a promoção de experiências musicais de várias espécies e os alunos devem viver diversos papéis numa variedade de ambientes musicais e num envolvimento direto que pode ser visto em três ângulos: a composição, a audição e a interpretação.

Para além destas formas de experienciar a música existem outros dois grupos de atividades periféricas à própria música e que devem ser incluídos. A síntese desta perspetiva é a palavra C(L)A(S)P. Para facilitar: C- Composição (composition), formulação de uma ideia musical, fazer um objeto musical; (L)- Estudo da literatura (Literatura studies) – literatura da e sobre música; A- Audição (audition) – audição reativa como audiência; (S) – Aquisição de competência (skill acquisition), oral, instrumental, notacional ; P – interpretação (performance), comunicação da música em “presença”.

Para Swanwick o C(L)A(S)P constitui um modelo para a educação, incorporando uma teoria cognitiva da aprendizagem musical que tenta reparar a separação do conhecimento formal/intuitivo, na qual os tipos de conhecimento estão integrados numa espiral de desenvolvimento musical.

T

de tocar. Tocar de ouvido, ou seja, primeiro ouvir, tocar/cantar e só depois ler e escrever. Os músicos oriundos de culturas fora da tradição ocidental têm bem presente que a fluência musical tem precedência sobre a leitura e escrita musical.

A educação musical pode aprender com estas práticas e experiências. Foi por exemplo o que fez Ken Zuckerman https://www.facebook.com/Ken-Zuckerman-237769542981340/ nas classes de Improvisação Modal no Conservatório de Música da Basileia (Suíça).

Este trabalho resulta de uma investigação de longa data na integração de competências de improvisação monofónica modal, como ensinada na Índia, na sala de aula de música ocidental. O ensino é feito recorrendo às metodologias da tradição oral, sem quaisquer materiais escritos. Veja aqui um resumo deste trabalho: https://www.youtube.com/watch?v=-NoWreaGr6o

U

de urgente valorizar, apresentar e divulgar as boas práticas musicais que se fazem nas escolas e felizmente não são poucas, mas muito desconhecidas da maioria dos professores e da sociedade em geral. A APEM tem procurado divulgar essas mesmas práticas.

V

de voz. A voz é o instrumento musical mais acessível. Independentemente da origem social, cultura ou capacidades musicais, a voz é o único instrumento que está disponível para todas as crianças. Saber usá-lo é também uma tarefa educativa.

W

de Ward, Willems e Wuytack. Compreender e conhecer pedagogos e métodos de ensino deve fazer parte da formação de qualquer professor de Música. Estes são alguns dos mais utilizados e com mais tradição em Portugal, para além de Orff, Gordon e Suzuki. A bibliografia é muita e os materiais de qualidade estão à disposição de todos no catálogo bibliográfico da apem: http://www.apem.org.pt/biblioteca/catalogo-bibliografico.php

X

de xilofones. Os diversos Xilofones (Soprano, Contralto e Baixo) e outros instrumentos de lâminas do instrumental Orff que estão em muitas escolas do país, permitem recriar uma orquestra na sala de aula e essa foi a grande descoberta e inovação de Carl Orff.

Y

de youtube. Uma ideia genial, um recurso riquíssimo de música e cheio de potencialidades para o ensino da música.

Z

de zero contratos para professores de música nas escolas do 1º ciclo. Apesar da música (expressão musical) fazer parte do currículo do 1º ciclo, a maior parte dos professores generalistas não tem formação suficiente e nem se sente à vontade para realizar atividades musicais com as crianças.

A par de uma formação musical estruturada para os professores do 1º ciclo que a APEM defende, a possibilidade dos professores de música poderem concorrer a jardins de infância e escolas do 1º ciclo para a área da música seria um ganho imenso para a formação global das crianças.

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A APEM

A Associação Portuguesa de Educação Musical, APEM, é uma associação de caráter cultural e profissional, sem fins lucrativos e com estatuto de utilidade pública, que tem por objetivo o desenvolvimento e aperfeiçoamento da educação musical, quer como parte integrante da formação humana e da vida social, quer como uma componente essencial na formação musical especializada.

Cantar Mais

Cantar Mais – Mundos com voz é um projeto da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) que assenta na disponibilização de um repertório diversificado de canções (tradicionais portuguesas, de música antiga, de países de língua oficial portuguesa, de autor, do mundo, fado, cante e teatro musical/ciclo de canções) com arranjos e orquestrações originais apoiadas por recursos pedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

Saiba mais em:
http://www.cantarmais.pt/pt

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©  Associação Portuguesa de Educação Musical

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